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Peso econômico invisível da saúde mental no serviço público e privado

por Editor
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Hoje, último dia do mês, nos despedimos do Setembro Amarelo, que vai muito além da conscientização sobre transtornos mentais, como depressão, por exemplo, que podem levar ao suicídio. A data alerta sobre a necessidade de adequação do serviço público, de empresas, do sistema de saúde, famílias e da própria Previdência para lidar com um drama que há muito impacta não só os parentes, mas tambéma economia, com afastamentos do trabalho crescentes, aposentadorias precoces e baixa produtividade.

O impacto dos afastamentos pode ter chegado a quase R$ 3 bilhões em 2024, segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). No serviço público de 2013 a 2023, uma média de 250 mil pessoas se afastaram por esse motivo, de acordo com o Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor (Siass). O valor pago para esses servidores durante a licença não foi divulgado.

Já no setor privado, no ano passado, 472.328 pessoas estavam em auxílio-doença por transtornos mentais e comportamentais, o maior número nos últimos e anos,segundo dados do Ministério da Previdência Social. O número representa uma alta de quase 67% em relação a 2023, com 283.471 afastamentos, conforme dados do Ministério da Previdência. Em 2025 já são computadas 271.076 licenças médicas até junho.

Principais causas

No serviço público, as principais causas dos afastamentos foram a depressão e a ansiedade, com 563 e 475 casos, respectivamente. Já transtornos mistos de ansiedade e depressão levaram a 388 afastamentos, e a reação aguda ao estresse resultou em 315.

As condições de trabalho, como baixa flexibilidade para mudar de equipe, sobrecarga de atividades e falta de reposição de servidores, têm contribuído para o agravamento do sofrimento psicológico desses profissionais.

O impacto sobre a vida dos servidores é profundo, e os afastamentos, muitas vezes, são prolongados. Casos de bipolaridade e depressão grave resultam em médias de afastamento de 116 e 72 dias, enquanto transtornos de ansiedade e reações agudas ao estresse exigem uma pausa de 67 e 58 dias, respectivamente.

Esses números reforçam a urgência de cuidar da saúde mental no ambiente de trabalho, pois o adoecimento dos servidores afeta diretamente a qualidade do serviço público prestado à sociedade.

Auxílio-doença

As doenças de saúde mental foram as que mais geraram concessão de benefícios por incapacidade temporária. O burnout, por exemplo, não está nessa lista por conta da dificuldade em fazer o diagnóstico. No ano passado, foram 4 mil afastamentos por esse motivo.

Além disso, os dados representam afastamentos e não trabalhadores, explica o INSS. Isso porque uma pessoa pode tirar mais de uma licença médica no mesmo ano.

Mulheres são as mais afetadas

Os dados permitem traçar um perfil dos trabalhadores atendidos: a maioria é mulher (64%), com idade média de 41 anos, e com quadros de ansiedade e de depressão. Elas passam até três meses afastadas do trabalho. Em relação aos homens, 170.980 se afastaram por ansiedade. A idade média também é de 41 anos.

Os especialistas explicam que mulheres são a maioria por fatores sociais: a sobrecarga de trabalho, a menor remuneração, a responsabilidade do cuidado familiar e a violência.

“Esse padrão social sobre as mulheres gera sobrecarga. Ao mesmo tempo, elas têm salários menores e são, muitas vezes, as responsáveis financeiras pela casa. Ou seja, ainda tem toda essa pressão, que foi ampliada com toda a crise na pandemia”, disse o psiquiatra Arthur Danila, pesquisador sobre ansiedade na Universidade de São Paulo (USP).

Segundo o último Censo, as mulheres mantêm financeiramente 49,1% dos lares brasileiros. Isso significa 35 milhões de famílias pelo país. E a maioria está na faixa etária a partir de 40 anos, a mesma idade média dos afastamentos.

O racismo é um complicador para os transtornos mentais na população negra. Dados do Ministério da Saúde, apontam que o número de suicídios é 45% maior entre pessoas pretas e pardas, em comparação às brancas.

Produtividade

O Brasil vive uma crise de saúde mental com impacto direto na vida de trabalhadores e de empresas, é fato. É preciso readequar o ambiente de trabalho sob a ótica dessa nova realidade.

“Se não houver investimento sério em prevenção, vamos enfrentar em 10 ou 15 anos uma crise dupla: de saúde pública e de previdência. Uma geração inteira pode chegar à idade adulta incapacitada para o trabalho. Isso significa quebrar não só vidas, mas também a sustentabilidade do sistema econômico”, afirma o psicólogo Vinícius Dornelles, mestre em cognição humana e especialista em Terapia Comportamental Dialética (DBT, na sigla em inglês) — que ensina habilidades de regulação emocional, validação e enfrentamento de crises.

A psicóloga Êdela Nicoletti, também especialista em DBT e em Transtorno de Estresse Pós-Traumático, reforça que a prevenção não pode se restringir a campanhas simbólicas. “É preciso entender que o impacto da saúde mental vai além do indivíduo. Quando alguém adoece, uma família inteira sofre, uma empresa perde produtividade, uma comunidade perde força. Setembro Amarelo só terá efeito real se trouxer a discussão para políticas públicas e ações consistentes dentro das instituições”, alerta.

Os especialistas lembram que a resposta passa por fatores estruturais: combate à violência, distribuição de renda, acesso universal à saúde e programas educativos.

“Não existe falar de suicídio sem falar de desigualdade social. A maior parte dos casos ocorre em países em desenvolvimento e em populações vulneráveis. Se continuarmos tratando o tema apenas como tabu ou marketing, vamos pagar um preço alto em vidas e em economia”, conclui Dornelles.

Mulheres são as maiores impactadas

Os dados permitem traçar um perfil dos trabalhadores atendidos: a maioria é mulher (64%), com idade média de 41 anos, e com quadros de ansiedade e de depressão. Elas passam até três meses afastadas do trabalho. Em relação aos homens, 170.980 se afastaram por ansiedade. A idade média também é de 41 anos.

Os especialistas explicam que mulheres são a maioria por fatores sociais: a sobrecarga de trabalho, a menor remuneração, a responsabilidade do cuidado familiar e a violência.

“Esse padrão social sobre as mulheres gera sobrecarga. Ao mesmo tempo, elas têm salários menores e são, muitas vezes, as responsáveis financeiras pela casa. Ou seja, ainda tem toda essa pressão, que foi ampliada com toda a crise na pandemia”, disse o psiquiatra Arthur Danila, pesquisador sobre ansiedade na Universidade de São Paulo (USP).

Segundo o último Censo, as mulheres mantêm financeiramente 49,1% dos lares brasileiros. Isso significa 35 milhões de famílias pelo país. E a maioria está na faixa etária a partir de 40 anos, a mesma idade média dos afastamentos.

O racismo é um complicador para os transtornos mentais na população negra. Dados do Ministério da Saúde, apontam que o número de suicídios é 45% maior entre pessoas pretas e pardas, em comparação às brancas.

Produtividade

O Brasil vive uma crise de saúde mental com impacto direto na vida de trabalhadores e de empresas, é fato. É preciso readequar o ambiente de trabalho sob a ótica dessa nova realidade.

“Se não houver investimento sério em prevenção, vamos enfrentar em 10 ou 15 anos uma crise dupla: de saúde pública e de previdência. Uma geração inteira pode chegar à idade adulta incapacitada para o trabalho. Isso significa quebrar não só vidas, mas também a sustentabilidade do sistema econômico”, afirma o psicólogo Vinícius Dornelles, mestre em cognição humana e especialista em Terapia Comportamental Dialética (DBT, na sigla em inglês) — que ensina habilidades de regulação emocional, validação e enfrentamento de crises.

A psicóloga Êdela Nicoletti, também especialista em DBT e em Transtorno de Estresse Pós-Traumático, reforça que a prevenção não pode se restringir a campanhas simbólicas. “É preciso entender que o impacto da saúde mental vai além do indivíduo. Quando alguém adoece, uma família inteira sofre, uma empresa perde produtividade, uma comunidade perde força. Setembro Amarelo só terá efeito real se trouxer a discussão para políticas públicas e ações consistentes dentro das instituições”, alerta.

Os especialistas lembram que a resposta passa por fatores estruturais: combate à violência, distribuição de renda, acesso universal à saúde e programas educativos.

“Não existe falar de suicídio sem falar de desigualdade social. A maior parte dos casos ocorre em países em desenvolvimento e em populações vulneráveis. Se continuarmos tratando o tema apenas como tabu ou marketing, vamos pagar um preço alto em vidas e em economia”, conclui Dornelles.

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